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Francisco Inácio de Carvalho Moreira nasceu no dia 25 de dezembro de 1815, uma segunda-feira. Era filho do português João Moreira de Carvalho e da alagoana Maria Joaquina de Almeida Silva. Segundo Renato Mendonça, o menino Francisco Inácio, entre as diabruras e traquinagens habituais da idade, curtiu a infância, em grande parte, no Engenho Santa Cândida, propriedade do pai. “Desse tempo feliz, ingênuo e folgazão”, disse o biógrafo do Barão de Penedo, “datam algumas de suas amizades mais ternas”, entre as quais a de Sinimbú. A vida intelectual de Francisco Inácio teve início em 1834, ano em que o penedense matriculou-se no curso jurídico de Olinda. Em Pernambuco, Francisco Inácio passou a conviver com figuras que iriam, como ele, entrar para a história do nosso país: Eusébio Queiroz, Saldanha Marinho, Nabuco, Cotegipe, Zacarias de Góis Vasconcelos e Teixeira de Freitas. Foi aí, embalado por tal convivência, que o futuro Barão de Penedo começou a abrir os olhos e a mente para o Brasil. Período de muitos estudos, de exames puxados – “sérios e proveitosos”, segundo suas próprias palavras.

A temporada olindense de Francisco Inácio, contudo, pouco durou: em razão de divergências entre mestres e estudantes, Francisco Inácio mudou-se para São Paulo, onde, em 1839, sob as circunspectas arcadas da academia paulistana, no Largo de São Francisco, se bacharela no curso de Ciências Jurídicas e Sociais.

Recém formado, Francisco Inácio enfrentou, com sucesso, o desafio de defender, no Conselho de Guerra, o Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, acusado de chefiar, em São Paulo, o movimento revolucionário de 1842. E o fez com tanto engenho e arte que logrou obter a absolvição do militar. Tamanho sucesso elevou no meio forense o prestígio do penedense. Um ano depois, Francisco Inácio, já então um advogado reconhecido e prestigiado, em cuja banca trabalhou o futuro deputado e romancista José de Alencar, criou, em companhia de Teixeira de Freitas, Caetano Alberto, Montezuma, Luís Fortunato e Sousa Pinto, a Ordem dos Advogados, que, ainda hoje, concorre não só para a boa administração da justiça e a qualidade dos cursos de Direito, como para a defesa intransigente dos direitos do cidadão. Francisco Inácio foi o segundo presidente da Ordem, sucedendo ao conselheiro Francisco Acayaba de Montezuma, o Visconde de Jequitinhonha. Francisco Inácio atuou com grande desenvoltura nos campos parlamentar, jurídico e diplomático. A personalidade do penedense brilhou, sobretudo, na área diplomática, tendo prestado inúmeros e importantes serviços ao Brasil. Em 1852, por exemplo, Francisco Inácio assumiu o posto de Ministro Plenipotenciário do Brasil em Washington, onde defendeu, com enorme senso patriótico, as posições brasileiras contra a pretensão americana de forçar a livre navegação do Rio Amazonas, posição esta defendida por outro alagoano ilustre, Tavares Bastos, que, vaidoso dos seus argumentos tão brilhantes como insubsistentes, não percebia as verdadeiras intenções dos gringos em relação ao grande rio e à Amazônia. Tavares Bastos tinha, desde os tempos da Faculdade, segundo seu biógrafo Carlos Pontes, um enorme fascínio pelos Estados Unidos, o que o levou a admitir que o futuro do Brasil estava inexoravelmente atado à história daquela nação. Nomeado para o mesmo cargo que assumira em Washington, Francisco Inácio chegou, em 1855, a Londres, onde teve atuação marcante na chamada Questão Christie. A ele coube, inclusive, conduzir o rompimento das relações diplomáticas com a Grã-Bretanha em 1863.

Em 1900, Francisco Inácio – “o mais notável dos nossos diplomatas do Império”, segundo Oliveira Lima -, embarcou de vez para o Brasil, onde desejava morrer e ser enterrado. Afastado da vida pública, limitou-se a ser um expectador da vida política brasileira. Não gostava do que via, mas permaneceu em silêncio, sofrido e amargurado, como um exilado na sua própria terra. Afinal, aos trancos e barrancos, a República ia, aos poucos, se consolidando. No dia 1º. de abril de 1906, Francisco Inácio de Carvalho Moreira deixou de existir. Tinha 91 anos de idade e residia no Rio de Janeiro. Foi, a seu modo, um patriota, a quem, todos nós, penedenses e alagoanos, devemos homenagear – e de quem temos todos os motivos para nos orgulhar.
Nascido em Penedo no dia 25 de março de 1873, Sabino Romariz era poeta e filho do poeta João Almeida Romariz e Dona Maria de Assunção Romariz. Logo cedo perdeu os seus pais, passando para a companhia de seus avos maternos, Capitão Sabino Alves Feitosa e dona Senhorinha Feitosa. Iniciou os estudos em Penedo e em seguida foi para o Colégio de Olinda, onde concluiu o curso de Humanidades.

Ingressou no Seminário em Olinda, grande centro cultural da época, todavia, abandonou os estudos eclesiástivos. Com essa sua atitude de abandono da vocação teve sua mesada cortada pelo seu avô. Aí começa a sua peregrinação pelos caminhos do infortúnio. A sua alma de artista ficou ferida, indo encontrar lenitivo no vício e no álcool. Retoma a Maceió e ali começa a ensinar nos colégios “Vitória” e “2 de Outubro”. Com essa sua volta a Maceió, inicia a ativa vida literária. Retorna a Olinda e no Seminário passa a ensinar inglês e latim. O seu temperamento de artista marcado pela instabilidade o levou para a Paraíba, onde ensinou latim e francês. Era um jovem de uma cultura admirável. Ao lado do Magistério, Sabino Romariz exercia com brilhantismo, também, o jornalismo. Da Paraíba vai para o Rio de Janeiro onde foi lecionar inglês e francês no Colégio Alfredo Gomes. Ali fez exames para a Faculdade Livre de Direito. Publicou o poema – A MANSINHA – passando a conviver com Olavo Bilac, Carvalho Neto e Guimarães Passos.

Escreveu o belo e decantado poema – A MADALENA –. Essa obra mostra não só a sua refinada inspiração, como também conhecimentos profundos das Sagradas Escrituras. Surge a seguir a sua coleção de sonetos “ OS RUBROS”. No Jornal do Brasil publicou “AS TRÊS GEMAS”.

As sua andanças pelos estados de São Paulo e Minas Gerais, foram marcadas pela publicação de sonetos, cuja coleção foi denominada “SOLIDÔNEOS”. Em 1903 volta a Penedo, sua terra natal!

Casa-se com a jovem Aspásia, tendo dois filhos: João e José. Cipriano Jucá falava assim de Sabino Romariz: “morava comigo em um quarto em Penedo, na Rua da Corte. Chega da rua bem “alto”, subia em uma mesa e de cócoras, mandava que eu pegasse lápis e papel. Aí, de improviso, ditava os mais belos versos. Era um gênio da poesia!” Em uma manhã de sol estava Sabino Romariz em frente à Igreja de São Gonçalo Garcia dos Homens Pardos. Do Camartelo vinha um cortejo fúnebre de um anjo. O corpo do inocente estava coberto de lírios, cuja brancura encantava. O caixão descoberto, aliás, era costume que caixão de anjo e de virgem fosse levado ao cemitério aberto. Sabino manda parar o cortejo. Com a emoção do verdadeiro poeta e a pujança de sua sensibilidade, improvisou:

“O lírio era uma flor imaculada,
Casta como o sorriso de Maria,
Flor de alvura tal que parecia
Ter sido feita da hóstia consagrada.

Em Jethemani, a face ensangüentada,
Jesus tragava o cálice da agonia E uma gota de sangue luzidia
Sobre um lírio caiu cristalizada.

E nisto, a flor, tem mancha concebida
Foi-se tornando como que dorida
Tomando aquele tom violáceo, frouxo.

E de como em outrora alvinitente
O lírio da Judéia, finalmente
Crespucular ficou, tornou-se roxo.”

Em 9 de maio estava Sabino no Sítio Cajé, bem perto da Bica da Coruja, em Penedo,vivendo os últimos momentos de sua existência. A cidade recebe a notícia. O poeta de todos os tempos iria partir rumo à eternidade. As cordas da sua lira estavam para serem rompidas e o silêncio seria tudo, daí em diante...

A penedense Estela Morais foi quem, juntamente com Frei José, acompanhou os últimos momentos de Sabino Romariz que no leito de morte escreveu “ÚLTIMA LÁGRIMA”. Sabino, com sua cultura e sua sensibilidade poética, não adquiriu fortuna. Morreu pobre, recolhido ao Sítio Cajé, despojado de tudo e de todos. Antes que a vida lhe fugisse, fugiram a sociedade e os amigos. Ao traçar o perfil de sua caminhada, Sabino Romariz escreveu:

Minha Estrela
“Nasci pobrezinho, qual ave do bosque;
Eu tenho uma estrela que Deus me guiou,
Um cetro supremo e sublime de artista
E nem por impérios tal estrela eu dou.

Eu trago na fronte tão loiro diadema,
Mais loiro e mais lindo que a luz das manhãs!
O sol me desperta em mei leito de espinhos,
As flores dos campos são minhas irmãs.

Debalde a riqueza me cobre de insultos,
A inveja tropeça na linha em que vou,
Eu tenho uma estrela radiante de Artista,
É um timbre infinito – foi Deus quem timbrou.

Eou órfão de amores, sou pobre de afetos,
Não tenho cadinhos, jamais, de ninguém,
Eu tenho uma estrela suprema de
Artista E tenho uma glória que muitos não têm.”
Nascido em Penedo aos 24 de março de 1865, seus pais foram Manoel José da Costa e Dona Belmira de Araújo Batinga. Desde cedo, o jovem Jonas sentia a vocação para o sacerdócio. D. José de Barros, Bispo de Olinda, em visita a Penedo, conheceu o jovem a quem levou para o Seminário. Jonas ordenou-se em Fortaleza. Ocupou no Seminário de Olinda as cadeiras de Latim e Filosofia e trabalhou em São Miguel dos Campos e Anadia.

Era um homem de personalidade forte, embora humilde, simples, inteligente e erudito. Vibrante orador sacro, músico qualificado e compositor dotado de uma voz privilegiada. D. João Esbera o distinguiu com o cargo de Visitante Apostólico no Estado de Alagoas. Foi Cônego da Sé de Olinda. Recebeu emocionado sua transferência para Maceió, tendo que, por razões de saúde, ser removido para Anadia onde desempenhou um apostolado relevante. Foi Reitor do Seminário de Maceió.

Com a morte de Don Antonio Brandão, foi eleito vigário Capitular e Vigário na administração de D. Manoel Lopes. Pio X o agraciou com a dignidade de Monsenhor Protonatário Apostólico em 1914. Bento XV o elevou à dignidade de Bispo de Penedo (Diocese do Rio São Francisco).

No dia 14 de agosto de 1918, às nove horas, chegou ao porto de Penedo o Vapor Comandatuba, cercado de lanchas e canoas. Chegava a sua cidade natal o primeiro Bispo de Penedo. Após o desembarque, o Pastor seguiu até a Igreja de São Gonçalo Garcia dos Homens Pardos, enquanto flores e confetes eram jogados do alto das sacadas dos sobrados. O cortejo seguiu até a Catedral Diocesana, sendo o Bispo Diocesano sob o Pálio, ladeado pelos Cônegos José Bernardino dias e Padre Francisco Xavier de Macedo, conduzido ao som dos acordes das bandas de música Carlos Gomes e Lira Traipuense. Entrando o cortejo na Catedral, entoaram o “ECCE SACERDOS MAGNUS”. O Bispo dirigiu-se à Capela do SS. Sacramento e em seguida tomou assento no trono. A oração congratulatória foi feita pelo Cônego Manoel Capitulino de Carvalho.

A posse propriamente dita do primeiro Bispo de Penedo foi no dia 15 de agosto de 1918 com a consagração da diocese de Penedo ao coração de Jesus. Estavam presentes à posse do primeiro bispo de Penedo o Bispo de Alagoas, D. Manoel Antonio de Oliveira Lopes; o Governador do Estado, Dr. José Fernandes de Lima e o Intendente Municipal, Dr. Hermílio de Freitas Melro. Bom Jonas de Araújo Batinga morreu no dia 30 de julho de 1940 e está sepultado na Catedral Diocesana.
Cesário Procópio dos Mártyres era filho de José Procópio dos Mártyres e dona Emília de São José dos Mártyres. Nasceu em 26 de fevereiro de 1884 na propriedade de seus pais entre Penedo e Ponta Mofina, denominada Araçá. Ainda criança já demonstrava pendores pela arte de esculpir, pois, usando a casca da Cajazeira ir esculpindo bonecos. Não estava destinado ao serviço da roça, um nobre destino o aguardava: ser escultor.

No dia 31 de janeiro de 1898, Cesário já residia em Penedo, na rua da Santa Cruz e entrou para a oficina do Mestre Júlio Phidias, situada na Praça Jácome Calheiros, antigo Largo de São Gonçalo do Amarante, depois Praça Valentim Rocio. O seu progresso foi rápido em assimilar os ensinamentos do Mestre Phidias. Diante do que acontecia com Cesário, o seu irmão que residia na capital federal, José Procópio dos Mártyres, enviou todo o material para que ele montasse sua oficina que foi na Rua 7 de Setembro, antiga Rua do Convento, nos baixos de um velho sobrado. Isso aconteceu em 1904, todavia, Cesário continuou a trabalhar com o seu Mestre Júlio Phidias até 1910. Cesário em sua mocidade foi atuante na sociedade penedense. Chegou a ser membro do Clube Carnavalesco Agonia, pertenceu à Sociedade R. F. Flor da Mocidade Penedense e do Montepio dos Artistas. Era um jovem elegante e não deixava o fraque e a cartola nos encontros sociais.

Em 1929 Cesário recebeu encomendas da Casa Luneta de Ouro, do Rio de Janeiro. Prontas, foram enviadas e bem aceitas, tendo como resultado um convite para se deslocar para o Rio de Janeiro. No dia 12 de Março de 1929, Cesário embarcou no navio Lins de Vasconcelos, saindo do porto de Penedo com destino ao Rio de janeiro. Lá residiu no bairro de São Cristóvão, juntamente com os familiares do mestre marceneiro, também penedense, Gerson Espinheira. Foi trabalhar na Rua do Arcos, conseguindo lugar para seu filho José Vécio. Ali, Cesário fez várias obras de escultura na madeira, destacando-se São João Evangelista que se encontra em uma igreja no bairro de Botafogo. Cesário era um escultor fiel a uma escola Barroca. O seu estilo inspirado na gramática Luso-Brasileira não aceitava a deturpação de seu potencial criativo. Cesário volta para Penedo. Aqui, ele deixara um discípulo que soube beber na grandeza de sua arte os princípios que o fizeram, também,um grande escultor e pintor: Mestre Antonio Pedro dos Santos.

Cesário não foi apenas um escultor genial, ele teve o poder de criar tipos escultóricos, como é o caso do Bom Jesus dos Navegantes, imprimindo-lhes toda a pujança de seu poder de criatividade.. O mestre Cesário e seu discípulo Antonio Pedro construíram em Penedo uma “civilização artesanal” dentro da linha do estilo da arte Luso-Brasileira. São inúmeras as obras de Cesário, todavia, o Bom Jesus dos Navegantes tem uma história.

A Festa dos Navegantes era feita na igreja franciscana de Nossa Senhora dos Anjos. A imagem que saía em procissão era o cristo Agonizante que se encontra na sacristia do Convento. Em 1914 foi feita a última festa no convento, pois, ao recolher da procissão, o superior decidiu que não mais permitiria a festa no convento. O Senhor Antonio José dos Santos, conhecido por Antonio Peixe-Boi, aflito, procurou o Mestre Cesário e pediu que esculpisse uma imagem para as procissões. O Mestre aceitou o desafio e com espírito muito ligado aos fatos das Sagradas Escrituras aliado ao seu poder de criatividade esboçou o tipo de imagem. Surgiu essa obras maravilhosa que é o Bom Jesus dos Navegantes de uma beleza encantadora, cujas linhas anatômicas assumem uma total perfeição. Foi concluída em 1915.

São várias as obras do Mestre Cesário, entre elas destacando-se: Bom Jesus dos Navegantes de Penedo, Neópolis, Piaçabuçu, Própria, Pontal da Barra, Jaraguá. Senhor Morto e Senhora Divina Pastora de Junqueiro, Senhor Morto de Neópolis, São Miguel Arcanjo que se encontra na Igreja das Correntes de Penedo. Os crucifixos de laranjeira do Convento de Penedo e tantas outras escultura espalhadas por esse Brasil. Cesário Procópio dos Mártyres morreu no dia 6 de janeiro de 1956, sendo velado na Ordem Terceira do convento de Nossa Senhora dos Anjos. Está sepultado no Cemitério de São Gonçalo do Amarante.